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Sua História
Até o ano de 1940, Olhos D’Água não existia. A região distante dos centros urbanos era habitada por uma população rarefeita, dispersa pela zona rural, constituída por famílias camponesas que, na relação direta com a terra, tinham garantida sua sobrevivência física e cultural. Dedicavam-se a criação de gado e ao plantio de produtos como arroz, feijão, milhos, mandioca, café cana-de-açúcar e algodão. O relativo isolamento da área gerou um sistema de vida praticamente auto-suficiente e independente da sociedade nacional. A alimentação era assegurada pelos produtos cultivados e seus derivados: rapadura, melado, queijo, farinha de mandioca, polvilhos. Da relação estreita com a natureza, o homem extraia quase tudo que era necessário à sobrevivência: remédios para cura de doenças, madeiras e fibras vegetais para construção da moradia, dos currais para a lida com o gado, chiqueiros e galinheiros, além da confecção de instrumentos de trabalho agrícola e artigos domésticos como arados, rodas d’água, mobiliário, gamelas, cestos, peneiras e muitos itens utilizados na vida cotidiana. O barro provia tanto o revestimento das paredes das casas de pau-a-pique quanto, por sua boa liga, a argamassa com que se faziam fogões, panelas e potes.
Neste contexto, o algodão era recurso da maior importância: com ele faziam-se fios para todo tipo de tecido que era produzido em teares domésticos: cobertas, toalhas e roupas para homens e mulheres.
Tendo contatos intermitentes com outros grupos, representados basicamente pelos ciganos que vez por outro por lá passavam e de quem adquiriam objetos como panelas de ferro e tachos de cobre, a comunidade local tinha sua auto-suficiência quebrada pela necessidade da importação de sal, principalmente do Triangulo Mineiro. A viagem, feita em carros de boi, demorava até seis meses e possibilitava à população escoar excedentes da produção local, principalmente cereais e couro. Em troca adquiriam o precioso sal e outros artigos especiais como, por exemplo, um par de sapatos para noivas ou algum tecido mais fino para consumo das famílias mais abastadas.
A vida comunitária, regida pelos calendários agrícolas e religiosos, tinha nos mutirões e nas festas em homenagem aos santos os momentos mais significativos de reunião e solidariedade. O ponto alto das comemorações religiosas era a Festa do Divino. Por ocasião de Pentecostes, maio e junho, cerca de 20 a 40 foliões percorriam a região, pedindo pouso às famílias. Em cada casa, os moradores e seus vizinhos aguardavam com ansiedade o grupo composto por músicos: violeiros, caixeiro, sanfoneiro, os alferes que conduziam as bandeiras com a figura do Divino Espirito Santo e demais foliões. Era um dia de muita oração e musica. Após as cantorias religiosas e a reza do terço, tinha inicio a “função”, quando dançava-se a “catira” e o “ chá”, modalidade de dança comuns a região. Tudo isso entremeado por muita comida, pois sendo o Divino partidário da prodigalidade e fartura, a ocasião exigia o preparo e consumo de muitas iguarias.
O perfil da sociedade da época, refeito a partir da história oral transmitida por aqueles que a ouviram de gerações passadas, aponta para o equilíbrio existente entre o isolamento da população e os mecanismos de sociabilidade, garantia da vida social. Neste sentido, a região insere-se no conjunto da vida camponesa no Brasil. O quadro acima começa a se transformar a partir da década de 1940, quando o centro urbano é criado.
Fonte: Fios de Olhos D'Água
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